O Ministério Público investiga desvio de dinheiro durante a gestão do ex-presidente do Inter Vitorio Piffero

A  Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, com apoio da Brigada Militar, cumpriram, na manhã desta quinta-feira (20), 20 mandados de busca e apreensão em uma investigação que apura os crimes de apropriação indébita, estelionato, organização criminosa, falsidade documental e lavagem de dinheiro durante a gestão 2015-2016 do Sport Club Internacional.

Os mandados foram cumpridos em residências e sedes de empresas em Porto Alegre, Eldorado do Sul e Viamão. Os investigados são Vitorio Carlos Costi Piffero, que exercia a função de presidente do clube, Pedro Antonio Affatato, que acumulava a 1ª Vice-Presidência e a Vice-Presidência de Finanças, Alexandre Silveira Limeira, que era vice-presidente de Administração, Emídio Marques Ferreira, vice-presidente de Patrimônio, Marcelo Domingues de Freitas e Castro, vice-presidente Jurídico, e Carlos Capparelli Pellegrini, que atuava como vice-presidente de Futebol. Também são investigadas as condutas de empresários de futebol, além de pessoas vinculadas a empresas de construção civil, turismo e contabilidade.

Conforme as investigações do MP, a principal fonte de fraudes e desvios patrocinados contra o Inter ocorreu por meio da retirada de valores em espécie da tesouraria do clube pelo vice-presidente de Finanças Pedro Antonio Affatato, alegadamente utilizados para o pagamento de obras para empresas de construção civil e prestação de serviços: os chamados adiantamentos. Foram cerca de R$ 10 milhões entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016, retirados diretamente por Affatato, que, depois, eram comprovados por meio de notas fiscais emitidas a título de obras que não foram realizadas, embora atestadas por Emídio Marques Ferreira, ou foram superfaturadas. Segundo análise técnica realizada pelo Ministério Público, de 165 notas analisadas, oriundas de nove empresas, pelo menos 94% revelaram obras não executadas, executadas parcialmente ou com sobrepreço.

Foi demonstrado que, na mesma data ou logo depois da retirada de valores a título de adiantamento, houve depósitos de valores idênticos ou muito semelhantes para uma empresa do próprio Affatato. Entre as obras pagas e não realizadas, estão benfeitorias no Centro de Treinamento de Guaíba, que, de acordo com vistoria feita durante a investigação, nunca foram prestadas. O local é, atualmente, uma área abandonada, sem infraestrutura e com vegetação nativa. Mesmo depois de alterada a forma de pagamento das supostas obras, a partir de fevereiro de 2016, o MP apurou que parte dos valores destinados às prestadoras de serviços de construção civil era posteriormente transferida para empresas relacionadas a Affatato e Emídio Marques Ferreira.

Affatato também é apontado por receber valores de agência de turismo, no curso da gestão 2015/2016, como contrapartida ao superfaturamento na prestação de serviços de turismo ao Sport Club Internacional.

Carlos Capparelli Pellegrini exerceu funções relacionadas ao futebol do Sport Club Internacional na gestão 2015/2016, inicialmente como diretor e, a partir de 30 de julho de 2015, como vice-presidente de Futebol, cargo em que permaneceu até agosto de 2016. O MP descobriu que negociações e renovações com atletas que normalmente não seriam realizadas, pelo menos nos patamares econômicos constatados, foram efetivadas sob os cuidados do investigado mediante prévio ou posterior repasse de valores. Logo depois de algumas negociações serem concluídas, os empresários dos atletas efetuavam, como recompensa, repasses financeiros ao dirigente. Em outras oportunidades, os empresários adiantavam valores a Pellegrini, para, em seguida, concluir os negócios envolvendo atletas por eles agenciados.

Nas duas situações, sempre era o clube que arcava com o prejuízo, ou contratando atletas que jamais seriam contratados nas condições que foram, ou embutindo no preço pago pelo jogador os valores repassados aos dirigentes. Foram apuradas possíveis irregularidades em contratações/renovações de inúmeros atletas, cujas negociações foram intermediadas, entre outros, pelos empresários investigados.

Marcelo Castro exerceu a função de vice-presidente Jurídico entre janeiro e agosto de 2015. Nesse período, as investigações do MP apontam que ele recebeu parte de valores oriundos de acordos trabalhistas firmados com atletas, além de outros negócios relacionados ao clube, por meio de triangulações de depósitos que envolveram diversas empresas utilizadas por ele para possível lavagem de dinheiro.

Foi apurado que Alexandre Silveira Limeira, por intermédio de uma empresa em seu nome, atuou como operador financeiro do grupo, como intermediário de valores posteriormente repassados, desde antes da gestão, para Vitorio Piffero e Carlos Pellegrini, vinculados à atuação de um empresário envolvido, logo no início da gestão.

 

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