Adilson Batista aponta fatores que resultaram na sua saída do Cruzeiro e comenta sobre o momento atual no futebol brasileiro

Treinador foi demitido após um início ruim no Campeonato Mineiro e na Copa do Brasil

Foto: Divulgação

Em meio à pandemia causada pela proliferação da Covid-19, a Rádio Grenal adotou mais um formato de produção de conteúdo: as lives. No perfil oficial do Instagram da caçulinha do rádio, o ouvinte e, agora, telespectador, pode acompanhar todos os domingos, entrevistas com convidados especiais. Nesta última ocasião (24), Adilson Batista foi o escolhido. O treinador e ex-jogador, foi responsável por comandar diversos clubes brasileiros, o último, foi o conturbado Cruzeiro, onde chegou no final do ano passado com a missão de salvar o time do rebaixamento. Apesar de não ter conseguido o feito, a diretoria o bancou para esse começo de temporada, mas os resultados obtidos não agradaram e ele acabou sendo demitido.

Durante a live, Adilson comentou sobre assuntos e questões importantes à cerca do futebol e sobre o momento que estamos enfrentando. Ainda sem data confirmada para a retomada, o retorno dos campeonatos é pauta para muitas reuniões e debates. Adilson comentou sobre isso e ressaltou que houve demora dos governantes para que medidas fossem adotadas. “Evidente que existe a preocupação, mas se tomarmos os devidos cuidados é possível voltar. Nós erramos porque já tínhamos conhecimento desse vírus. Os nossos governantes erraram nesse sentido, com o carnaval e uma série de outras coisas que entram em discussões políticas e acabamos esquecendo de pensar no bem de todos. Evidente que a Alemanha está dando um exemplo com o retorno. Nós vamos ter que esperar e faz parte, temos que ter calma”, ressalta.

Mudanças nas substituições

A CBF decidiu que já vai implementar as cinco substituições por partida nas competições oficiais de 2020. A medida vai ser adotada temporariamente depois que a IFAB autorizou a emenda nas regras do jogo. As trocas precisam ser feitas em três janelas por equipe e vão valer tanto para competições já iniciadas como nas que ainda vão começar – mesmo que elas se estendam até início de 2021. “Acho que é importante. Já via com bons olhos a quarta [substituição] pelo desgaste, intensidade e velocidade do jogo. É de suma importância, nesse momento, você ter essas trocas. Óbvio que alguns clubes serão favorecidos, os que tiverem um elenco qualificado. Uma equipe de menor expressão e sem um elenco tão acima, as trocas não irão favorecer tanto quanto”, pontua.

Folha salarial x Jogadores

A pandemia do novo coronavírus paralisou o futebol ao redor do mundo e complicou a vida financeira de muitos clubes. E no Brasil não é diferente, com os times sofrendo sem o pagamento de direitos de TV e com patrocínios suspensos. A exemplo de outros países, uma das saídas tem sido a redução salarial dos elencos. O problema é que em solo brasileiro não houve acordo coletivo entre a Comissão Nacional de Clubes (CNC) e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf). Desta maneira, cada clube está resolvendo a situação de um jeito com seus elencos. “Estamos vendo vários clubes com um déficit enorme. É outra realidade. Vamos ter que nos adequar. É uma realidade e temos que entender. O investidor, o público e o clube, tudo vai diminuir. Messi e entre outros jogadores cederam e aqui existe uma barreira. Tem que ceder”, enfatiza Adilson Batista.

Queda do Cruzeiro

Adilson deixou o comando da equipe, depois de iniciar a temporada com uma fraca campanha no Campeonato Mineiro e também na Copa do Brasil. A partida que causou sua demissão foi a derrota para o Coimbra, por 1 a 0, no último dia 15 de março. O treinador diz que a realidade do Cruzeiro é conseguir o acesso e que as coisas não funcionam da noite para o dia. “Eu fui contratado por outro grupo e agora assumiram esses oito outros gestores. Eu vi eles duas vezes e não tinamos autonomia. Infelizmente tivemos uma derrota contra o Atlético-MG e outra na Copa do Brasil, e eles acharam justo encerrar. Você fica triste porque não existiu conversa. E a realidade do Cruzeiro é conseguir o acesso. Tivemos vários problemas, inclusive de elenco. É questão de paciência, as coisas não funcionam da noite para o dia”, explica.

No palco onde viveu alguns dos melhores momentos dos seus quase 99 anos de história, o Cruzeiro também passou pelo seu pior. Em 2019, no Mineirão, selou seu primeiro rebaixamento para a Série B em partida contra o Palmeiras. O time fechou o Campeonato Brasileiro em 17º lugar, se juntando a CSA, Chapecoense e Avaí como clubes que caíram para a segunda divisão nacional. Para o ex-treinador do clube, existe obviamente a condição de subir e conquistar o objetivo. “Vai ter que brigar, que correr e lutar para subir, mas vai conseguir. Tem um time experiente e já rodado, que vai ajudar o clube a conseguir conquistar o objetivo que é o acesso”.

Com certeza uma das partes que mais sente chateação quando um time caí para outra divisão, é o torcedor. Seja aquele que está no estádio ou o que assiste aos jogos direto da sua própria casa. Quando um time caí, o apoio do torcedor se torna mais essencial do que nunca. Um gigante que tem a necessidade de ser impulsionado para a frente afim de conquistar seus objetivos. O torcedor do Cruzeiro sentiu e entendeu o momento pelo qual o clube está passando. Segundo Batista, a queda não diminui o tamanho do Cruzeiro. “O Cruzeiro ganha, chega e é um clube tradicional que precisa ser respeitado. Fora do eixo Rio-São Paulo é o único que conquistou título brasileiro. A realidade é difícil por que envolve uma gestão fraudulenta, de corrupção, de desvio. Mas o Ministério Público vai punir. É um processo um pouco mais lento e que precisa de calma. O River, o Racing são exemplos. O Grêmio com o Romildo. Então, vai demorar, mas precisa de compreensão por parte do torcedor inclusive”, entende.

Ser treinador no Brasil

O Brasil é o país que tem a maior rotatividade de treinadores do mundo, o tempo médio de um treinador em um grande clube do Brasil é de 6 meses, tempo insuficiente para qualquer profissional de qualquer área se adaptar e desenvolver um bom trabalho. Apesar dos números comprovarem que os clubes que conquistam os principais títulos são os que conseguem permanecer por mais tempo no cargo, fazendo parte da montagem e desenvolvimento do elenco. O imediatismo dos clubes no Brasil é o principal problema, todos os clubes começam o campeonato com um planejamento equivocado, já que não conseguem fazer uma analise real de seus elencos e traçando metas atingíveis, começam os campeonatos com treinadores com um pensamento de jogo e quando o demitem logo contratam outro com uma forma de ver o jogo totalmente diferente.

Embora, por vezes, bem remunerada no alto escalão, a profissão é uma das mais instáveis do mercado de trabalho brasileiro, e isso não afeta apenas a sequência da temporada dos clubes, mas também a evolução da qualidade do futebol jogado por aqui. Adilson Batista afirma que o profissional brasileiro está bem preparado, mas que o fator respeito ainda está em haver. Ou seja, é necessário respeitar o trabalho que cada treinador executa e o planejamento para que a longo prazo possa dar frutos. “Não é defender a classe. Nós estávamos lá no curso da CBF, em uma classe de 160 alunos. Eu terminei minha licença PRO fazem dois anos já. Ai você viaja, traz livro de todos os lugares, se aprimora. Eu vejo o profissional brasileiro preparado. Eu acho que é importante a gente se respeitar. E respeitar o jeito de cada um trabalhar e ganhar. Quem comanda deveria ter esse discernimento. A gente precisa entender o processo, ter empatia. Esse debate pode ser discutido mas com mais seriedade”, salienta o treinador.

* Por supervisão de: Marjana Vargas

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